terça-feira, 28 de abril de 2009

que triste
que fria
que morta
que olhar que mata
que bela!!!

AAAAAAHHHHH!

Já começo eu a impostar!!!

tu-tu-tu-tuuuuuu...

Impostora!!!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A QUATRO MÃOS

Elisa, até que enfim, nosso esconde-esconde começa a chegar ao fim. Chega de brincar de cabracega!! Eu estou aqui (tu bem o sabes), e finalmente te sinto, começo a te apalpar, a te moldar, a te tocar; a tocar como tu tocas, a sentar como sentas, a olhar como olhas. Sinto-me olhando teu olhar por trás dos olhos que te empresto. Sinto que é teu sopro que faz o som que chega aos meus ouvidos, quando tocas minha flauta com meus dedos e lábios... Tu giras dentro em mim e meus pés obedecem, meu tronco obedece, espiral, espiral, chega de espera, estive tempo demais a te esperar na estação e finalmente te ouço, apito, entrando nos trilhos, minério de ferro, jarra de estanho, despejando o leite derramado na arena de tua casa, no teu jardim de margaridas, que já consigo ver pela janela da minhalma...

Vem, Elisa, senta aqui comigo, e toca esta cantiga dentro em mim, comanda meus lábios para que falem tuas palavras com teu ritmo, minha voz com tua melodia nem tão aguda nem tão grave, as palavras duras e as doces ora com delicadeza, ora com crueldade (cortantes como metal, sempre, quando necessário, para ceifar o que está morto; quanto tu me ensinas!)...

Vem, que já te sinto chegando; não me largues, não me deixes, vem allegro ainda que triste, e bisa, bisa sempre nossas melodias a quatro mãos. Vem, e seja benvinda, que nossa hora não tarda, nosso concerto se aproxima.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

temos um elefante na sala de visitas. e não falaremos disso.

O silêncio de Elisa é como o sorriso do gato de Alice. É uma segunda pessoa na sala, uma terceira na cama. É um soco na boca do estômago, uma bofetada na cara, uma flecha no peito.

O silêncio de Elisa diz tudo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

POUR ELISE ou CLAVE DE LUA

Elisa,

eu, do lado de cá da máscara, me observo em ti. Continuamente me observo em ti, e te pergunto:

Que parte de mim tu és?
Que parte de mim é esse eclipse, névoas, crepúsculos?
Que parte de mim alimentará teus olhos grandes e sonoros, tuas mãos pequenas e nervosas, tua garganta seca, boca amarga, coração duro? Tua frieza de mármore? Tua falta de lágrimas?

E tu, insensível, com o que me respondes?

Um sutilíssimo sorriso. Delicadeza. Silêncio.

Em que semínimas e colcheias tu te escondes?
Em que pausas?
Em que pautas?
Em que pautas tua dignidade de prata quando a clava da justiça esmorece sob o sol?

Pontua. Pontua. Pontua. Colcheias... Elisa-colcheia, meio tempo, meia lua. Contida por excelência, calada pela metade, amarga por inteiro.

Flutua, flutuuuuuuuuua entre legattos e stacattos, música ligadura de união, silêncio ligadura de expressão...

Tu não me respondes, e nessa tua resposta feita de mudez, melodia e olhos sem sal, mostras que a resposta está dentro em mim.

Mais que as notas, tu és as pausas, figuras negativas. Silêncios.

Elisa, minha querida, minha cara indecisa...

Eu, que sou um ser de palavras, emudeço diante de teu silêncio... Para falar a ti pego emprestadas as palavras do Baleiro:

Vem comigo, vem
Já tenho quase tudo que me basta
A flor no pasto
A mesa posta
Minha música e teu (?) calor
Agora só me falta aprender o silêncio.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

CONVERSA INTERNA

Seca. Indecisão não significa sofrimento. Ela está acima da dor, além dela.

CONSEGUIU ENTENDER, CINTIA?!?!?!

Certo. Desfranzir o sobrolho. Procurarei me lembrar.

TREINA NO ESPELHO, DÁ SEU JEITO!!!

sábado, 31 de janeiro de 2009

PECADO

Oito horas da manhã de uma manhã pálida de agosto. O sol morno não é suficiente para romper o friozinho do fim de inverno, o resto da névoa da madrugada. Irradia um brilho baço, disco sem raios, que aquece a pele mais por sugestão psicológica que por calor, de fato.

Elisa está sentada na varanda de seu sítio, numa quinta a alguns quilômetros de Salém. Está enrolada numa manta de retalhos feita por sua avó quando ela ainda era uma menina, e fazia os primeiros furos nos dedos ao tentar repetir os movimentos ágeis e certeiros daquelas mãos já enrugadas.

Tudo isso lhe parece muito distante agora, embora apenas dez anos tenham se passado. Ela olha para o horizonte borrado pela luz diáfana e se vê, silenciosa, olhos grandes e sonoros, ajudando a velhinha, enquanto os irmãos e primos correm pela fazenda. Têm os rostos afogueados pela brincadeira, os cabelos colados na testa, o peito ofegante. Qual maritacas, guincham gritinhos afetados as meninas que são pegas no pique.

Ela, não. Elisa tem sete anos e está sentada na varanda, os cabelos lisos a escorrer pelos ombros, os pezinhos calçados em sapatos esmeradamente engraxados por ela mesma (embora já um tanto gastos). O vestido, simples, mas impecável, atado por uma fita lilás abaixo do busto, que ela ainda não tem – e ainda não sabe, mas não terá nunca, figura comprida, silenciosa e magra, ao contrário de suas primas, gordinhas e lindas, faces coradas, cabelos em cachos. Ela tem sete anos, mas já sente na alma o reumatismo daqueles que nascem velhos. Tem alguns retalhos no colo e se ocupa de emendá-los, pontos ainda irregulares. E fica esperando a vontade de brincar, que ela sabia que não viria.

Deixava-se ficar horas na varanda, com a avó, entre pontos e rezas, cirandas e orações. A avó lhe ensinava a bordar, a coser, a rezar e a ser uma boa esposa, quando chegasse a hora. A avó era a mulher que lhe sobrara, agora que a mãe havia morrido. Elisa só tinha irmãos. Era a caçula, a filha tão esperada. Sua avó lhe ensinava a ler a Bíblia, a entender aquelas notinhas no papel pautado e a arrematar o tricô. Estava sempre vestida de claro, suas meias eram claras, sua pele era clara, sua alma era clara. Era incapaz de falar alto, de ser ríspida, de negar ajuda a quem quer que fosse – o passarinho da asa quebrada, o gato preso na árvore, o irmão mais velho chorando pelo corte na testa. Elisa parecia Nossa Senhora, lhe dizia a avó.

Elisa nunca brincava de pique. Não podia tomar muito sol, pois sua pele era alva demais. Não agentava correr muito, pois era frágil. E, sobretudo, não gostava que lhe encostassem. Brincava sozinha: brincava de aprender a flauta, sua melhor amiga – comprida, clara, fria e reluzente como ela. Brincava de montar quebracabeças, dias a fio, montando na mesa as imagens que já tinha visto com a mente aguda, pelas poucas peças que já conseguira encaixar. Brincava de costurar, de bordar, de plantar. O pai, após a morte da mãe, havia lhe feito um jardim de margaridas. Mergulhar os dedos na terra, revolvendo-a, lhe dava imenso prazer. Era o momento em que sentava no chão, sem sapatos, desalinhava e encardia o vestido, amassava a terra molhada...

O cheiro dessa terra era o que lhe entrava agora pelo nariz, dez anos depois. O orvalho da manhã fora suficiente para desprender da terra aquele cheiro de memória, de felicidade, e ela o sorvia com dificuldade. Era o cheiro da felicidade, o cheiro que trazia da memória, e que cabia tão bem àquele momento. Deveria se casar naquela tarde, e se sentir plenamente feliz. Mas aquela felicidade toda lhe oprimia o peito, como um medo de estourar, de arrebentar, de... De quê, meu Deus?, se perguntava ela.

Estava acordada desde às cinco. Despertara de um sono leve, agitado, cheio de imagens que ela não ousava evocar, tampouco queria esquecer.

Era disso que tinha medo: de que ser feliz demais fosse pecado.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

TRAIÇÕES

É precisamente quando ela vai contra sua essência, sua verdade, que ela se estrepa, e joga por terra sua moral ilibada e tudo aquilo pelo que sofreu tanto: quando mente para salvar João no tribunal.

Era seu momento de finalmente falar, de deixar as palavras escoarem, jorrarem de sua boca e seu peito. E ela sucumbe, cede ao seu amor, à sua dependência dele, ao seu medo de se ver sozinha no mundo, sem seu João, seus quatro filhos sem pai; ou com um pai com a honra de seu nome manchada.

Ela troca a sua verdade, a verdade que se espera dela, pela honra de seu marido – ao menos, é o que ela imagina.

João apostara todas as fichas nisso: ela era incapaz de mentir, jamais havia mentido na vida. E, no entanto, ela não corresponde ao que o marido espera dela, ao que ele precisa dela. É isto, em última instância: na única vez em que ele realmente precisou dela, ela falhou. Ela falhou irremediavelmente. Falhou com ele antes, como mulher, quando não o quis; e agora como esposa.

Ali Elisa começa a submergir, a afundar, a definhar, a se esvair... Ali ela o trai. E o pior: ela se trai. E qual é a pior? A dele em relação a ela, ou a dela em relação a ela mesma?

O QUE ME FALTA DESCOBRIR

Como é a Elisa mãe?

Quem, ou como, era Elisa antes de adoecer, antes de Abigail chegar, antes de João olhar para a outra – antes de sua casa desmoronar como um castelo de baralho, de suas certezas se esfacelarem, disso tudo acontecer, afinal? Como era quando ela era feliz?

Que doença, afinal, ela teve? Foi depois do nascimento do terceiro filho, diz João... Anemia, simplesmente? É possível a ela ficar mais pálida? Ou é por isso que ela fica pálida? Depressão pós-parto?

Como se conheceram? Como ela era, então? Já era triste, ou só ficou triste depois de tudo o que houve? Era bonita, então? É bonita agora?

ELISA EM ESPIRAL.

(Ou eu mergulhando em espiral no turbilhão de buscar Elisa...
...ou um pedido de socorro, como garrafas ao mar...
...ou os pensamentos que preferem calar.)




Quem é ela, quem é essa Elisa que me indaga olhando-me nos olhos? Eu me indago, ou eu a indago, ou ela indaga a todos nós: decifra-me ou te devoro, Elisa-esfinge que me desafia do alto de sua castidade. O quanto Elisa está em mim? O quanto de mim está nela, Elisa-espelho? Elisa-elipse que faz a curva onde não se vê, Elisa-eclipse que esconde não sei que parte de mim – não sei que parte minha de mim, não sei que parte minha dela. Elisa lisa ou áspera, seca ou... Não, nunca, nunca Elisa-lágrima, nunca Elisa-pluviométrica; mas sempre métrica, metódica, simétrica.

Que Elisas se escondem por trás do nome – constelação, Elisa-estrela, Elisa-etérea, Elisa-galática, Elisa-elísea? Que elos há entre Elisa, eu-Elisa e eu-eu mesma? Que caminhos tomar para que Elisa possa andar com minhas próprias pernas? Qual o formato do A que Elisa fala, o formato do A com que Elisa fala sua fala em minha boca? Com qual frequência ela-Elisa atinge a freqüência aguda que eu-eu mesma ponho na minha voz de não-Elisa? Qual a frequência com que Elisa-ela me visita nos ensaios? Como posso eu escapar ilesa de Elisa? O quanto de Elisa há em todos nós – Elisa dura, Elisa seca, Elisa cortante como o vento de inverno do entardecer das minhas lembranças; Elisa justa e casta, cascadura, carapaça, caramujo, o quanto visto sua carapuça, sua máscara...?

E que diabos quer Elisa? O desejo de Elisa é feito de quê? E sua fome, com o quê se mata? O que a impulsiona, Elisa-elástico, que arrebenta quando puxado ao seu limite, ao extremo, ao espaço? E quando é que a casa cai? Quando a corda arrebenta? Quando é que seu dique se rompe? E como é quando isso acontece – água em redemoinho descendo pelo ralo, mais nada?

Como chora essa mulher que não chora? Como fala sentindo dor essa mulher fria, que não se impõe e que todos põem num pedestal, num altar? Como fala essa mulher que não fala?

E o que fala essa mulher quando cala?

O QUE EU SINTO DA PERSONAGEM?

· Baixa autoestima, sem autoconfiança.
· Racional. Autocontida. Serena por fora, mas com um turbilhão interior.
· Entre a justiça e a piedade, ela prefere a justiça.
· Pálida, magra, lábios apagados, reta de corpo. Cabelo escorrido, sem volume. Talvez uns primeiros fios prateados, longos. Olhos grandes, um olhar de lince, penetrante, que diz o que sua boca não tem coragem de falar, quando contrariada. "Aguada”, de forma geral. Aparência de um retrato ou de uma pintura: qualquer coisa de irreal, de antigo, de perdido no tempo, de frio...
· Vestido sóbrio, gola alta, cor escura ou esmaecida, poucos enfeites, manga ¾.
· Acho que a Elisa tem sempre a boca meio seca, como seu peito; está sempre umedecendo os lábios, tragando a saliva... Engolindo as palavras que ela não consegue formular, os pensamentos que preferem calar.
· Mãos, muito. Trabalhos manuais, habilidade com elas...
· Me passa sempre a idéia de espiral, de estar no olho do furacão – o mundo gira ao redor e ela está em seu lugar, resoluta no meio do caos. Um olhar que começa pelas beiradas, quando não está obstinada em um de seus poucos momentos de foco.
· Usa um pouco sua condição, sua convalescência.
· Impressionista. Iminência de tempestade, o ar abafado e denso debaixo do céu cinza... O silêncio que precede o primeiro trovão.
· Tem o hobby de montar quebracabeças – passa dias mal saindo deles para dar atenção aos filhos ou ao marido.
· Nunca esquece nada. Tem cada detalhe de tudo o que viveu gravado na memória.
· Cheiros de cânfora e de dama-da-noite.
· Costume de estalar os dedos, devagar.
· Imagem de Nossa Senhora das Graças, as mãos caridosas e complacentes estendidas, o manto azul, a figura longilínea...
· Todos os dias de manhã toma um copo de leite morno com aveia.
· Tem nas janelas vasos e vasos de violetas.

O QUE O TEXTO ME DÁ SUBJETIVAMENTE?

· Dificuldades de comunicação, de se expressar de forma geral.
· Extremamente contida e controladora de suas emoções.
· Indecisa.
· Dá mil voltas antes de entrar, de fato, num assunto.
· Orgulhosa.
· É lógica, racional, autocontida.
· A indecisão entre mentir ou não – sua moral, seus valores X seu amor por João – é a grande questão que a deixa fora de seu centro. A única vez que mente, em nome desse amor, acaba por prejudicar esse amor.
· Extremamente crítica, analítica e perspicaz – sua capacidade de análise vem de sua observação indireta e descontínua. Vê tudo um pouco “do alto”, sem se envolver (ao menos, não se envolvendo antes da hora) e abarcando o todo num só olhar, breve e sereno.
· Dá pouca importância aos pequenos detalhes cinzas e corriqueiros do dia-a-dia. Vive o presente mergulhada dentro de si, liquidificando as imagens de seu passado – o tempo em que tudo estava em seu lugar.
· Castíssima e recatada.

O QUE O TEXTO ME DÁ OBJETIVAMENTE

· Toca flauta – uma melodia doce e triste.
· Usa demais o silêncio como resposta – isto é pontuado em todo o texto, com todos os personagens com os quais se relaciona.
· Autocensura por sua falha como esposa (o lance do vinho, se achar banal, transformar sua casa em um lugar frio como ela).
· Não sabe mentir, é incapaz disso.
· Pura, digna, boa cristã, decente.
· Mãos pequenas.
· Descobre-se que está grávida, o que é anunciado no tribunal.
· No desfecho da peça, está ainda mais pálida, as vestes imundas, a face descarnada.

PERFIL TRABALHADO EM UM ENSAIO QUALQUER, PERDIDO NO TEMPO...

LOCAL DA CASA: varanda

PARTE DO CORPO: olhar – mãos – estômago – nuca

DIA OU NOITE: noite

OBJETO: caixinha de música, sombrinha, flauta

COR: azul acinzentado, lilás

COMIDA: charuto de repolho, doce de coco, melão

UMA PALAVRA: desconexão – descompasso – impermeabilidade

ANIMAL: girafa. Mas penso que acha as lagartixas levemente familiares...

REFERÊNCIA ARTÍSTICA: cantigas, cirandas. Fado português. Tela “Mulher lendo uma carta”, de Jan Vermeer

CURIOSIDADE: desejo de passar batom

MAIOR MEDO: de que o injusto vença, no final; de que sua moral seja derrotada, se derreta

AÇÃO, DESEJO: sobreviver? Desmascarar Abigail? Ter João de volta, não apenas em corpo, mas também em mente e coração, como antes? E também ela mesma, voltar a ser íntegra, como era?

VERBOS DE AÇÃO EXECUTADOS POR ELA: calar, tocar, olhar, cantarolar, pedir

COMO EU A VEJO: baixa autoestima; pouca (ou nenhuma...) resiliência e permeabilidade; baixa autoconfiança; “alheamento do que na vida é porosidade e comunicação”; descompasso – mundo paralelo, quase à parte, povoado por suas análises da realidade, pelos fantasmas gerados por seus medos e suas frustrações; inflexibilidade; rancor, amargura, secura; quer estabelecer pontes mas não consegue; senso de justiça e moral acima de seu senso de humanidade. Racional. Implacável. Se considera moralmente superior que a média dos habitantes de Salém – nisto incluído João. “Menina” mimada, no sentido de ter sido acostumada a ser posta num altar. Pirracenta. Se faz de vítima. Autocontrolada, contida mesmo. Triste, infeliz. Solitária.

COMO ELA SE VÊ: sem graça. Traída, injustiçada; com o direito de agir como age, com frieza; incompreendida. Digna, boa cristã. Banal, incapaz de despertar amor autêntico.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

DA BOCA, VOGAL

Quando não tiver mais nada – nem chão, nem escada, escudo ou espada – o seu coração acordará.

Quando estiver com tudo: lã, cetim, veludo, espada e escudo... Sua consciência adormecerá.
E acordará no mesmo lugar, do ar até o arterial; no mesmo lar, no mesmo quintal, da alma ao corpo material.

Quando não se tem mais nada, não se perde nada. Escudo ou espada: pode ser o que se for, livre do temor.

Quando se acabou com tudo – espada e escudo, forma e conteúdo – já então agora dá para dar amor. Amor dará, e receberá do ar, pulmão; da lágrima, sal. Amor dará, e receberá, da luz, visão do templo espiral.

Quando se acabou com tudo (espada e escudo, forma e conteúdo), já então agora dá para dar amor. Amor dará, e receberá do braço, mão; da boca, vogal. Amor dará, e receberá da morte o seu guia natal.

(Adeus, dor...)

[NANDO REIS]

terça-feira, 18 de novembro de 2008

OS PENSAMENTOS QUE PREFEREM CALAR

(...de Elisa para João.)

Quando aconteceu? Não sei.
Quando foi que eu deixei de te amar?
Quando a luz do poste não acendeu?
Quando a sorte não mais pôde ganhar?
Não... De longe me disse um não, mas quem vai dizer tchau?

Onde aconteceu? Não sei.
Onde foi que eu deixei de te amar?
Dentro do quarto só estava eu, dormindo antes de você chegar.
Mas, não, não foi ontem que eu disse não...
E quem vai dizer tchau?

A gente não percebe o amor que se perde aos poucos, sem virar carinho.
Guardar lá dentro o amor não impede que ele empedre, mesmo crendo-se infinito.
Tornar o amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém.

Somos, se pudermos ser ainda; fomos donos do que hoje não há mais.
Ouve o que houve, e o que escondem em vão os pensamentos que preferem calar.
Se não, irá nos ferir o não, mas que não quer dizer tchau.

[NANDO REIS]

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

UNE JEUNE FILLES AUX CHEVEUX BLANCS


Je suis à l'age où l'on ne dort nulle part
Les seuls lits dont je rêve sont des quais de gare
J'ai loué un placard pour mes robes d'hiver
J'ai tué les parents

Oh je veux partir sur la seule route où il y a du vent
Je suis la jeune fille aux cheveux blancs

Mon amoureux dit qu'il ne me connaît pas
Il vit loin de tout, il vit trop loin de moi
Sur le plus haut volcan où l'amour est éteint
Il reviendra demain

Oh je veux partir sur la seule route où il y a du vent
Je suis la jeune fille aux cheveux blancs

Oh je veux partir sur la seule route où il y a du vent
Je suis la jeune fille aux cheveux blancs
Je suis la jeune fille aux cheveux blancs
[CAMILLE DALMAIS]

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

ELISA EM ESPIRAL

Elisa, mulher feliz, diz a etimologia do nome: Elisa, agraciada por Deus.
Elisa, helicoidal, espiral ascendente, olho de furacão. Que mulher é Elisa?