segunda-feira, 6 de abril de 2009

A QUATRO MÃOS

Elisa, até que enfim, nosso esconde-esconde começa a chegar ao fim. Chega de brincar de cabracega!! Eu estou aqui (tu bem o sabes), e finalmente te sinto, começo a te apalpar, a te moldar, a te tocar; a tocar como tu tocas, a sentar como sentas, a olhar como olhas. Sinto-me olhando teu olhar por trás dos olhos que te empresto. Sinto que é teu sopro que faz o som que chega aos meus ouvidos, quando tocas minha flauta com meus dedos e lábios... Tu giras dentro em mim e meus pés obedecem, meu tronco obedece, espiral, espiral, chega de espera, estive tempo demais a te esperar na estação e finalmente te ouço, apito, entrando nos trilhos, minério de ferro, jarra de estanho, despejando o leite derramado na arena de tua casa, no teu jardim de margaridas, que já consigo ver pela janela da minhalma...

Vem, Elisa, senta aqui comigo, e toca esta cantiga dentro em mim, comanda meus lábios para que falem tuas palavras com teu ritmo, minha voz com tua melodia nem tão aguda nem tão grave, as palavras duras e as doces ora com delicadeza, ora com crueldade (cortantes como metal, sempre, quando necessário, para ceifar o que está morto; quanto tu me ensinas!)...

Vem, que já te sinto chegando; não me largues, não me deixes, vem allegro ainda que triste, e bisa, bisa sempre nossas melodias a quatro mãos. Vem, e seja benvinda, que nossa hora não tarda, nosso concerto se aproxima.

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